Enfermagem: É mais fácil emigrar do que ser enfermeiro “num país sem sonhos.”

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

É mais fácil emigrar do que ser enfermeiro “num país sem sonhos.”

Sara Ribeiro não encontrou emprego em Portugal.

Sara Ribeiro não encontrou emprego em Portugal. Cláudia Vieira vai trocar o lugar que tem no Hospital de Valongo pelas perspectivas que encontrou na Irlanda. Foram mais de 10.000 os profissionais de enfermagem a pedir desde 2009 à ordem o documento necessário para trabalhar no estrangeiro. Por Romana Borja-Santos


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Há um ano Sara Ribeiro estava de malas feitas para o Reino Unido. Depois do envio de mais de 100 currículos que em nada deram, emigrou em Janeiro de 2014 e é agora enfermeira num prestigiado hospital público de Londres. Aos 24 anos, diz que “foi preciso coragem para sair”, mas assegura que “será necessária muito mais coragem para voltar a um país sem sonhos”. Um estado de espírito semelhante ao da também enfermeira Cláudia Vieira, que nos primeiros meses do próximo ano vai para a Irlanda, deixando o seu trabalho “sem perspectivas” no Hospital de Valongo. Com 36 anos, defende que “é difícil ir para fora, mas impossível mesmo é ficar aqui”.

Tanto Sara como Cláudia engrossaram a longa lista de enfermeiros portugueses que nos últimos anos saíram do país em busca de uma oportunidade no estrangeiro. De acordo com os dados da Ordem dos Enfermeiros enviados ao PÚBLICO, no total, desde 2009, foram mais de 10.000 os profissionais de enfermagem a pedir a este organismo a chamada "declaração das directivas comunitárias", necessária para trabalhar fora do país – o que não significa que todos tenham saído. Até 30 de Novembro deste ano foram 1956 os enfermeiros que solicitaram o documento.

No entanto, se de 2009 para 2010 o número de pedidos aumentou de 609 para 1030, continuando a subir para 1724 em 2011 e 2814 em 2012, desde 2013 houve algum decréscimo. No ano passado foram feitos 2516 pedidos e neste ano, até ao final de Dezembro, tinham dado entrada 1956. Cláudia deixará o Norte, Sara é menos uma a sul. Quanto a diferenças regionais, a Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros registou sempre mais pedidos de saída do que o centro e o Sul, com excepção de 2013 e de 2014, em que foi ultrapassada pela Secção Regional do Sul.

No caso de Sara Ribeiro a decisão foi relativamente rápida. Acabou o curso no Verão de 2013. Seguiu-se a procura de emprego. “Fiz uma lista das instituições de saúde, procurei emails, telefones, fui presencialmente aos sítios. Fui literalmente às páginas amarelas. Enviei seguramente entre 100 e 150 currículos e tentei mais no privado,porque sou formada na Universidade Católica e temos muito boa imagem nesse sector. Ao mesmo tempo fiz voluntariado no Banco do Bebé e no Re-Food”, conta ao PÚBLICO via Skype, no seu quarto em Londres, poucos dias antes de regressar a Lisboa para o Natal em família.

O resultado dos contactos foram apenas três entrevistas, uma das quais escondia na verdade um trabalho a pouco mais de 500 euros em que seria também recepcionista e faria limpezas depois das 21h. Denunciou o caso à Ordem dos Enfermeiros. Chegou a receber um telefonema para uma vaga que não atendeu a tempo e quando ligou para o número tinham passado ao nome seguinte. Uma informação sobre recrutamentos para o Reino Unido através da empresa Kate Cowhig chegou-lhe por email em Setembro de 2013. Arriscou.

“A minha ideia sempre foi fazer carreira de enfermagem em Portugal, mas quase todos os sítios pedem dois anos de experiência em meio hospitalar e se uma pessoa não consegue começar a trabalhar como pode ter experiência?” Os responsáveis pela unidade inglesa vieram a Portugal e passou as provas teóricas e práticas. Quiserem saber em que área gostava de trabalhar e disse cirurgia geral. Foi a proposta que lhe fizeram. Não adianta o valor certo, mas diz que ronda o triplo do valor para início de carreira em Portugal, que é de perto de 1000 euros. Mudou-se a 2 de Janeiro, com a primeira renda paga. A Ordem dos Enfermeiros explica que não tem os dados da emigração segmentados por faixas etárias, mas assegura que na maior parte dos casos a declaração é pedida por enfermeiros em início de carreira, mas já com alguma experiência. Ainda assim, devido ao grande número, também é comum encontrar entre os que emigraram vários casos de pessoas entre os 30 e os 40 anos já “altamente especializadas”.

Cláudia Vieira ainda não tem data certa para a mudança, mas sabe que será nos primeiros meses do ano e para perto de Dublin, pela língua e proximidade do aeroporto. Aliás, os números da Ordem dos Enfermeiros indicam que a Europa é o destino escolhido pela esmagadora maioria dos enfermeiros que decidiram sair do país, sendo Inglaterra o local mais procurado, seguido por França, Bélgica, Alemanha, Suíça e Irlanda. Ao contrário de Sara, Cláudia tinha emprego em Portugal e experiência, pelo que quis ir pessoalmente à Irlanda conhecer o sítio onde vai trabalhar, num processo intermediado pela empresa Borboleta JobAbroad, que lhe tratou da documentação e inscrição nos organismos irlandeses.

Foi só há 11 anos que Cláudia ingressou no curso de Enfermagem, a sua “paixão”. Antes foi administrativa. Trabalha desde os 18 anos. “A minha filha nasceu há 11 anos no dia do exame de Anatomia”, recorda, para justificar que é por ela que se vai mudar da cirurgia de ambulatório do Centro Hospitalar de S. João para uma unidade irlandesa dedicada a doentes com Alzheimer. “Uma das coisas que me faz ir para fora é mesmo a minha filha, ver que aqui nunca lhe vou conseguir dar uma vida. Vejo-a a crescer e a aproximar-se a idade da faculdade”, diz.




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Fonte: Romana Borja-Santos

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