Enfermagem: Os enfermeiros são mais cobiçados do que os médicos

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Os enfermeiros são mais cobiçados do que os médicos

Cândida Márcia de Brito, do Hospital Sírio-Libanês: responsável pelo desenvolvimento dos colegas de trabalho
São Paulo - Em agosto, ganhou espaço no noticiário a discussão em torno da necessidade de importar médicos de outros países para trabalhar no Brasil. No entanto, um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) mostra que são os enfermeiros os profissionais de saúde mais demandados pelo mercado.

O levantamento revela que, de 2009 a 2012, dos 304.317 postos de trabalho de nível superior abertos no Brasil, 27.282 vagas, quase 9% do total, foram para enfermeiros. Isso quer dizer que esses profissionais só foram menos requisitados que os analistas de tecnologia da informação (TI).
Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, desde 2007 o salário da profissão cresceu 58%, enquanto a inflação no período foi de 34,7%. Nos grandes hospitais do país, um enfermeiro recém-formado recebe em média 4.000 reais mensais por 6 horas de trabalho diárias. 

O paulistano Alexander Aredes Sobrinho, de 31 anos, é um exemplo do atual dinamismo da carreira. Embora tivesse predileção por atendimento de emergência, enveredou pela área de gestão após receber um convite para supervisionar a enfermaria do Hospital Santa Marcelina.
"Acabei me especializando em gerenciamento de enfermagem", diz Alexander. E ele não parou por aí. Graças a um curso para avaliar processos de qualidade em hospitais e clínicas em busca de certifcação, o enfermeiro realiza auditorias nas quais recebe de 1.000 a 1.500 reais por avaliação — um trabalho que dura dois dias.
Depois, fez uma especialização em administração hospitalar pela Fundação Getulio Vargas. Com o investimento no currículo, foi convidado em 2011 a assumir a chefa da emergência do Hospital São Camilo. Após a segunda promoção, Alexander é hoje assessor da gerência de enfermagem, posição cujo salário varia de 7.000 a 10.000 reais na instituição.
A área de educação também tem demandado profissionais de enfermagem. Foi essa a opção da enfermeira Cândida Márcia de Brito, de 37 anos, coordenadora do departamento de enfermagem do Hospital Sírio-Libanês. Depois de cinco anos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ela foi convidada a integrar a equipe de desenvolvimento de enfermagem, formando os profissionais que ingressam no hospital.
"Durante a faculdade, eu me interessava pela área acadêmica. Acabei exercendo a função no próprio ambiente hospitalar", afirma Cândida. "É muito gratificante sentir que você está ajudando um profissional a crescer na carreira", diz a enfermeira, que atualmente faz especialização em UTI.
Expansão e contratações impulsionados pelas deficiências crônicas da saúde pública brasileira e pelo aumento da renda da população, os hospitais particulares passam por um período de expansão. O resultado é que os bons profissionais da área são disputados.
No Hospital Albert Einstein, de São Paulo, cerca de 90 novos profissionais são incorporados mensalmente à equipe de 3.400 enfermeiros para atender as quatro unidades da capital paulista. Para atraí-los e retê-los, é preciso oferecer um bom plano de carreira e benefícios.
No Einstein, o profissional de enfermagem pode chegar à diretoria. A enfermeira paulistana Fernanda Morato Gal, de 31 anos, ingressou no Einstein em 2010 como enfermeira plena e, em agosto, foi promovida a enfermeira sênior e agora vai liderar uma equipe de medicina diagnóstica e preventiva.
Para Miriam do Carmo Branco da Cunha, diretora de RH do hospital, o grande diferencial do pacote de benefícios da instituição é o incentivo ao aprimoramento do profissional. O hospital oferece bolsa de estudos de 50% na graduação e na pós-graduação para todos os funcionários com mais de um ano de casa e boa avaliação de desempenho.  A remuneração varia de 3.611 (nível júnior) a 8.000 reais (sênior).
Acima dessas posições, está o gestor de enfermagem, que cuida dos processos e das pessoas, acompanhando indicadores e resultados. Treinando para contratar Para formar profissionais suficientes para suprir a demanda por gente bem qualificada, alguns hospitais criaram seus cursos de enfermagem e programas de trainees.
O Einstein, de São Paulo, conta com a própria faculdade de enfermagem. O curso, com duração de quatro anos, prevê estágio prático a partir do segundo ano. No Centro Universitário São Camilo (Cusc), também em São Paulo, o foco do curso é em gestão e liderança. 
"Num hospital, é o profissional de enfermagem quem verifica materiais, administra conflitos entre anestesista e cirurgião e define o tamanho da equipe para intervenções cirúrgicas e plantões, entre outras atividades", diz o coordenador do programa de enfermagem da instituição, Marcelo Chanes.
Para ele, todo enfermeiro precisa ter experiência assistencial (no cuidado com o paciente), mas a carreira pode levar a funções executivas, como gerência de qualidade, de processos ou auditoria financeira (enfermeiros que fazem a ponte entre o hospital e as operadoras de saúde).
Já os hospitais São Camilo oferecem um programa de trainee em enfermagem com duração de um ano para recém-formados e formados há dois anos. A remuneração é de 2.500 reais para 180 horas mensais de trabalho. Ao término do programa, os aprovados são efetivados como enfermeiros juniores e, depois de seis meses, são promovidos ao cargo de enfermeiros plenos.
Em 2014, haverá mais uma turma de trainees com aproximadamente 40 vagas. As inscrições serão abertas no site da instituição em novembro deste ano.
Para Marcelo Chanes, o mercado de enfermagem deve continuar crescendo nos próximos anos, dada a progressiva inversão da pirâmide demográfica brasileira, com maior proporção de idosos na população. "Tem enfermeiro que abre empresa de treinamento de cuidadores de idosos e está vivendo muito bem com isso", diz.
Outro fator é a expansão do Programa Saúde da Família, do governo federal, que prevê que cada instituição tenha, no mínimo, um profissional da área para dar assistência ao programa ou atuar no atendimento das várias Unidades Básicas de Saúde. "É a profissão
do futuro", diz Ivana Lucia Correa Pimentel de Siqueira, superintendente de atendimento e operações do Sírio-Libanês.

E, apesar da alta dose de estresse, a satisfação na carreira compensa os desafios.
Fonte: Denise Ramiro, da VOCÊ S/A EXAME.COM

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